Frequentemente gostamos muito, investimos fortemente na relação e todavia, não conseguimos dar ao objetivo do nosso amor os sinais inequívocos de que isso acontece. Vezes de mais exprimimos o afeto apenas da forma que achamos mais adequada e esquecemos-nos de que, do outro lado, está uma pessoa diferente de nós, com sensibilidade, gostos e necessidades distintas. E na cegueira das nossas certezas e convicções, não somos capazes de compreender que ela não aprecie os nossos sinceros esforços de sedução e que estes sejam, com aquela pessoa concreta, absolutamente ineficazes, quando não, mesmo, contraproducentes.
Vezes de mais nos esquecemos de procurar saber como os outros gostam de ser amados. Vezes de mais nós projetamos e amamos como gostaríamos de o ser, não como eles, realmente, desejam sê-lo.
Quando gostamos de alguém, é claro que apreciamos a sua presença e companhia e amar é, sobretudo, confiar, o que, por um alargado conjunto de circunstâncias, nem sempre é fácil de conseguir.
Amar é acreditar que se pode mudar a pessoa amada, que a força desse afeto pode tocá-la e fazer inflectir uma trajetória errada mas não resulta crer que faz milagres. O Amor não tem o poder de transformar personalidades patológicas em ajustadas e funcionais e muito boa gente, por entusiasmo e generosidade, demasiado tarde descobre esta evidência.
Fonte do artigo: Até Que a Sorte Nos Separe de António Pereira, AMBAR, abril de 2009